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sábado, 5 de maio de 2012

Hospitais regionais são subutilizados

Saúde - RN

Margareth Grillo - repórter

O Hospital Geral Monsenhor Walfredo Gurgel/Clóvis Sarinho é o grande termômetro da saúde pública no Rio Grande do Norte. Se ele está superlotado é sinal de que a retaguarda de atendimento não funciona como deveria. Nas cidades próximas a Natal, com exceção do Hospital Regional Deoclécio Marques, os outros seis hospitais regionais estão subutilizados. Em dois deles, visitados pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE o número de pacientes está abaixo da capacidade instalada. Sobram leitos, diariamente.
Alberto LeandroRosane Gomes recebe hidratação em pé no corredor do hospitalRosane Gomes recebe hidratação em pé no corredor do hospital

Na quinta-feira, 03, o Hospital Regional Alfredo Mesquita, em Macaíba, que possui 21 leitos de clínica médica (sendo um de isolamento), mantinha apenas onze pacientes internados. No mesmo dia, o Hospital Regional Deoclécio Marques, em Parnamirim, a menos de 15 quilômetros, trabalhava com 30% acima de sua capacidade. Somente a ortopedia, que tem a maior demanda, estava com 75 pacientes internados, dos quais 70 aguardam cirurgia.

No Deoclécio Marques, a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE encontrou pacientes internados em macas, alojados em salas improvisadas e nos corredores. Rosane Gomes recebia atendimento no corredor do hospital. Passou a noite anterior sentada numa cadeira e aguarda cirurgia que ainda não foi feita porque o hospital não consegue completar as escalas de profissionais para as salas de cirurgias, devido à greve dos servidores estaduais e médicos, que já dura mais de 30 dias, e por causa da crise no serviço de lavanderia, pelas dívidas que o governo do Estado tem junto à empresa contratada. Na quinta-feira, o Deoclécio recebeu, pela manhã, apenas um conjunto profissional (calça e camisa), quando a necessidade diária é de 30. A promessa era de que a empresa entregasse mais alguns na parte da tarde. Nas mesma manhã, no Alfredo Mesquita, dez leitos estavam desocupados.

Na cidade de São José de Mipibu, o Hospital Regional Monsenhor Antônio Barros tem espaço "de sobra", segundo os profissionais de saúde, para ser uma unidade de apoio para o Hospital Walfredo Gurgel, em casos simples, em que os pacientes estejam estabilizados. Na sexta-feira, 4, a unidade tinha vagos quatro leitos de clínica médica, três de pediatria e sete cirúrgicos. Nas unidades, as diretorias reconhecem a subutilização e garantem que informam, diariamente, à Coordenadoria de Operação dos Hospitais (Cohur), da Secretaria Estadual de Saúde Pública, o número de leitos vagos. "Nós informamos e nunca recusamos qualquer transferência, até porque quando houve a restruturação ficamos como hospital de retaguarda", afirmou a diretora geral da unidade de Macaíba, Altamira Galvão de Paiva.

No entanto, os gestores dos hospitais regionais são unânimes em afirmar que aumentar a produtividade, ou seja, a ocupação da unidade exige ampliação de recursos humanos. "Hoje nossa dificuldade", afirmou a diretora da unidade, Célia Serafim, "é de recursos humanos. Estamos pensando em aumentar o número de cirurgias, mas não temos equipe suficiente para isso". Nenhum deles tem Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o que impede a realização de cirurgias mais complexas.

Essa unidade tem 28 médicos que realizam, em média 20 cirurgias por semana, segundo informou a Célia Serafim. Em Macaíba, o centro cirúrgico está fechado há, pelo menos, um ano. A situação de 'caos' dos principais hospitais levou o Ministério Público Estadual a realizar um estudo que possa revelar porque os hospitais da rede estadual consomem milhões de reais para pagamento de profissionais da saúde e, ainda assim, a assistência é deficiente.

Solicitado ao Centro de Apoio às Promotorias de defesa da Cidadania, pela promotora de Justiça da Saúde, Iara Pinheiro, o estudo motivou uma auditoria nas unidades integrantes da rede estadual de Saúde Pública. A pedido da promotora, o procurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, Thiago Martins Guterres, requereu a auditoria que foi aprovada pelo Tribunal de Contas do estado, em janeiro deste ano.

No documento enviado ao Ministério Público de Contas, a promotora afirma que "a rede hospitalar do Estado absorve vultuosos recursos financeiros, especialmente no pagamento da folha de pessoal, sem oferecer mínimas condições de assistência regionalizada". O resultado disso, destaca a Iara Pinheiro, "é a transferência de pacientes para atendimento em Natal e, em menor escala, nas cidades polos, como Mossoró e Parnamirim". A promotora afirma que "os hospitais regionais possuem potencial para uma resposta assistencial de qualidade".

MP afirma que há distorções nas unidades

Para a Promotoria de Defesa da Saúde, a relação custo-benefício está descompensada no caso dos hospitais regionais da rede estadual. Ao solicitar a auditoria a promotora Iara Pinheiro citou a necessidade de "corrigir distorções". O MP constatou na rede estadual de 23 hospitais "disparidade entre os recursos gastos na manutenção e a efetividade de ações de saúde".

Dados do estudo do MP mostram que o hospital regional de Macaíba, por exemplo, custou, entre janeiro e agosto do ano passado, aproximadamente R$ 681,4 mil, mas R$ 616,6 foram destinados a pagamento de pessoal. Em contrapartida, a unidade realizou, no mesmo período, 1.274 procedimentos de internação hospitalar. A demanda maior foi ambulatorial: mais de 302 mil atendimentos.

No hospital regional de São José de Mipibu, do total de gastos, R$ 711,3 mil, mais de R$ 644 mil foram destinados para pessoal. A unidade realizou 151 internações hospitalares e 26,8 mil atendimentos ambulatoriais. O período analisado foi o mesmo.

O MP considera desequilibrada a distribuição espacial das unidades e critica a oferta de serviços de baixa complexidade nas unidades hospitalares. A chamada ambulancioterapia continua em alta, nas portas das principais unidades de Natal e Parnamirim. A falência da Atenção Básica, de responsabilidade dos municípios, agrava a crise na rede hospitalar.

Casos simples como torcicolo, torção e viroses continuam superlotando as unidades, que deveriam estar atendendo pacientes com patologias mais complexas. "A todo instante, recebemos pacientes de outros municípios, na maioria das vezes", afirma a diretora do hospital regional, em Macaíba, Nilzelene Carrasco, "pacientes que poderiam recorrer aos postos de saúde e às UPAS [Unidades de pronto-Atendimento]".

Segundo ela, esses pacientes não deixam de ser atendidos. "Apesar de toda a crise das últimas semanas, que só agora começa a ser equacionada", disse Nilzelene, "em nenhum momento nossa porta de atendimento foi fechada. Atendemos a todos os que chegaram ao hospital".

No hospital regional, em São José, a técnica de enfermagem Maria Aparecida de Oliveira reclamou da sobrecarga de trabalho, devido à superlotação que acontece no pronto-socorro da unidade. "Hoje os bancos estão cheios de pacientes que deveriam estar sendo atendidos na atenção básica", afirmou Aparecida. A técnica de enfermagem ressaltou que não estava "questionando a necessidade do paciente, mas a falência da atenção básica".

Segundo Maria da Guia Dantas dos Santos, diretora local do Sindicato dos Servidores da Saúde do RN, o município possui 17 equipes de Estratégia de Saúde da Família (antigos PSFs). "Pelo que a gente vê, todos os dias aqui, essas equipes não funcionam e a gente questiona para onde estão indo os recursos que são repassados", asseverou.

Inspeção registra falta de cuidados

Por quase uma hora fiscais do Conselho Regional de Medicina no Rio Grande do Norte (Cremern) visitaram todas as alas de internação e corredores do Hospital Monsenhor Walfredo Grugel/Clovis Sarinho, no início da tarde de ontem. O relatório da inspeção será apresentado ao presidente do Cremern, Jeancarlo Fernandes, nesta segunda-feira, 7. No mesmo dia, o documento será levado ao conhecimento do plenário do Conselho, que poderá aprovar uma intervenção em alguns setores do HWG.

"Na impossibilidade de atuarmos em toda a unidade", avisou Jeancarlo Fernandes, "vamos atuar no setor de reanimação". O presidente do Cremern adiantou que "a situação está mais grave do que se pensava". A última visita do Conselho ao Walfredo Gurgel foi realizada em janeiro deste ano, juntamente com a Comissão de saúde da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e várias recomendações foram emitidas.

Os fiscais do Cremern fizeram fotografias e registros para colher provas de materialidade do fato. Jeancarlo Fernandes disse que um relato informal dos médicos que fizeram a inspeção aponta para uma situação "de caos absoluto". No HWG, os pacientes entubados, que precisam de terapia intensiva (UTI) estão acomodados em macas, que transbordam da sala de reanimação para corredores, politrauma e clínica médica e observação pós-cirúrgica.

Na madrugada de ontem um desses pacientes entubados no corredor veio a óbito. O Cremern tem imagens comprovando desassistência. As fotografias mostram resíduos de larvas de mosca na boca do paciente. "Na verdade, os pacientes estão jogados num cantinho de parede, sem ter quem olhe por eles, o que é completamente inadmissível", afirmou o médico.

Jeancarlo frisou que o paciente necessita de vigilância constante e, se essa assistência não é dada adequadamente, o resultado é a elevação da mortalidade. "Num hospital de trauma", afirmou Jeancarlo Fernandes, "a mortalidade é maior pela própria natureza do paciente, entretanto parte das mortes não ocorrem na hora do trauma. O paciente que está morrendo é aquele que está estabilizado e internado há mais de uma semana, nos corredores". Segundo enfermeiras do HWG entrevistadas, pela equipe da TN, na semana passada ocorreram 44 óbitos, sem considerar as mortes por trauma. A unidade tem um técnico de enfermagem para cada 16 pacientes.

Grande Natal tem oito hospitais

Dos hospitais da rede estadual, oito estão na região metropolitana de Natal. Com corredores lotados, unidades como o Walfredo Gurgel, Santa Catarina, e Deoclécio Marques, em Parnamirim, estão operando 'milagres', segundo os gestores para atender a demanda. No entanto, unidades como o Alfredo Mesquita, em Macaíba, e Antônio Barros, em São José de Mipibu, que têm espaços e leitos ociosos poderiam ser um ponto de apoio.

A médica Jacila Braga, do HRMAB, de São José, afirma que "a unidade tem condições para isso, por ter equipamento de raio-x, de atender traumas simples, como luxações, torções, fratura de punho, torcicolos. Mas precisa ser equipada e ter mais profissionais". Ontem, a médica estava transferindo a paciente Maria Letícia da Silva, 15 anos, para Parnamirim. "Ela está com problema de torcicolo, mas é preciso ortopedista faça uma avaliação", explicou a médica.

No hospital regional de Macaíba, depois da interdição ocorrida no ano passado, a unidade reabriu apenas com 21 leitos de clínica médica. A obstetrícia, que antes da interdição chegou a fazer uma média de 160 partos/mês, está sem funcionar, aguardando reforma do centro cirúrgico e da sala de parto. Berços comuns e aquecidos, encubadora e diversos equipamentos estão sem uso.

A diretora geral Altamira Galvão de Paiva disse que aguarda orçamento para inicar a reforma. Os dois hospitais não possuem autonomia financeira. Segundo os médicos do interior, a superlotação de Natal e Parnamirim deve-se a uma regulação ineficiente. No último sábado, no hospital de São José, a médica teve que aguardar cinco horas para a transferência de um paciente infartado.

Segundo o coordenador de Ortopedia do Estado, Jean Valber, a quebra no fluxo de pacientes da ortopedia tornou a superlotação mais crítica na última semana. O governo do Estado estava em débito com a Cooperativa de Médicos do RN que disponibiliza ortopedistas para os procedimentos. Eles só retomam o atendimento na segunda-feira.

Devido à greve, a unidade está trabalhando com 30% de sua equipe. "Nós só conseguimos fechar uma equipe, apesar de termos capacidade para fazer três cirurgias simultâneas", disse o médico. Ela acredita que se a retaguarda fosse estruturada melhor, desafogaria os hospitais de Natal e Parnamirim.

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terça-feira, 1 de maio de 2012

Hospital W. Gurgel tem estrutura comprometida

Saúde - RN

O Hospital Walfredo Gurgel, referência no tratamento de pacientes politraumatizados no Rio Grande do Norte, corriqueiramente, além da superlotação, passa por problemas estruturais, que podem comprometer o atendimento dos enfermos. Atualmente, dois dos quatro elevadores que servem aquela unidade estão quebrados e, por isso, o maqueiro que estiver transportando um cadáver não tem acesso internamente ao necrotério, aonde só pode chegar saindo do prédio.

Júnior SantosLixo comum e orgânico está acumulado junto à unidade há pelos menos duas semanasLixo comum e orgânico está acumulado junto à unidade há pelos menos duas semanas

A TRIBUNA DO NORTE flagrou dois instantes em que isso ocorreu. Às 16h11, um maqueiro saiu com o corpo de um homem, que acabara de falecer. Às 16h29 passou o cadáver de uma mulher, em decorrência de politraumatismo.

Outro problema na unidade é o lixo orgânico e comum, acumulado há pelo menos duas semanas, no fundo e ao lado do terceiro prédio que compõe aquele complexo hospitalar. Um auxiliar de manutenção disse que "nunca tinha acontecido isso nos 25 anos que trabalho aqui".

O mesmo funcionário do WHG, que não quis se identificar para evitar problemas, disse que vinha ocorrendo atraso no pagamento à empresa responsável pela coleta de lixo, enquanto o chamado lixo hospitalar "estava sendo recolhido regularmente".

Já o secretário estadual de Saúde Pública, Domício Arruda, confirmou que havia um contrato precário com a empresa Limp Express, mas disse que ela "estava usando a imprensa para fazer cobrança" das dívidas que a Sesap tinha pela prestação do serviço de coleta do lixo comum.

Domício Arruda disse que a Sesap já pagou o que devia à empresa pela coleta de lixo de 2011 e uma parcela relativa a janeiro deste ano. Ele acrescentou que faltam pagar dois meses, um valor de R$ 40 mil que será quitado a título de indenização, porque um novo contrato de 12 meses já foi assinado e que começou a vigorar em março, com uma despesa mensal prevista de R$ 22 mil.

Por intermédio de sua assessoria de imprensa, a TRIBUNA DO NORTE obteve a informação de que a coletado lixo comum e orgânico, que fica num dispensário ao lado de um quarto exclusivo para receber o lixo hospitalar, seria regularizado pela Limp Express até amanhã.

Quanto aos elevadores que estavam quebrados, a informação do HWG é de que a empresa Elevadores Masters havia feito a manutenção dos equipamentos e estes tinham voltado a funcionar entre o fim da tarde e o começo da noite de ontem.

Um médico que não quis se identificar, também disse que os técnicos do Hospital Walfredo Gurgel só estão se alimentando porque se servem da mesma comida destinada aos pacientes. Para os médicos, que ali trabalham, a alimentação foi cortada "por falta de pagamento ao fornecedor".

O médico disse que faltam muitos itens no hospital e que, essa situação, deverá ser oficializada junto à governadora Rosalba Ciarlini com uma "carta aberta", elaborada pelos médicos lotados naquela unidade hospitalar, que há pelo menos dois meses está sem diretor geral, pois o médico Mozar Dias de Almeida saiu de férias e pediu para deixar o cargo.

O secretário Domício Arruda explicou que, numa reunião com o quadro de médicos do HWG, pediu-se que fosse elaborada uma lista a critérios dos seus profissionais, para que dali saísse a nomeação do novo diretor geral. Mas, o que decidiram foi a formação de uma comissão para gerir a unidade, o que vai de encontro à orientação do governo.

Por enquanto, segundo Arruda, uma médica vem respondendo pelo expediente da direção geral por questão legal, enquanto continuam lá o diretor técnico João Rabelo e o diretor administrativo-financeiro, Josenildo Barbosa.


Júnior SantosCorpos levados por maqueiros para o necrotério pelo lado de fora do Walfredo GurgelCorpos levados por maqueiros para o necrotério pelo lado de fora do Walfredo Gurgel

























Promotora visita o Clóvis Sarinho

Os funcionários do Hospital Walfredo Gurgel estão em greve há 30 dias e, ontem à tarde, convidaram a promotora de Defesa da Saúde, Iara Pinheiro, para visitar o pronto-socorro Clóvis Sarinho, que passa por uma crise de desabastecimento.

Iara Pinheiro não quis antecipar nada para os jornalistas, nem antes e nem depois de sua chegada, mas afirmou que aquela "era uma visita de rotina".

O diretor do Sindicato dos Servidores da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sindsaúde-RN), Marcelo Melo, disse que amanhã deverá ser entregue um relatório à promotora sobre as condições de trabalho dos funcionários e de atendimento aos pacientes do HWG, que inclui o pronto-socorro Clóvis Sarinho: "Na quinta ou sexta-feira ela também ficou de apresentar um relatório de sua visita".

Marcelo Melo disse que o mínimo de 30% dos servidores estão garantidos e não inviabiliza o funcionamento do hospital e nem houve redução da demanda e nem paralisação do atendimento da UTI. "A única redução que há é a falta de medicamentos e material para tratamento dos pacientes, no sentido de logística e não de falta de servidores na UTI".

O sindicalista Paulo Martins,disse que tudo o que a promotora viu, "são coisas que ela já está acostumada a ver". Segundo ele, a promotora sabe muito bem da realidade do HWG, os corredores superlotados, falta de profissionais e, inclusive, "ela requereu na Justiça a contratação de mais servidores, mas isso foi negado, porque o Estado sempre recorre dessa situação".


Alberto Leandro
Henrique Alves foi ao hospital ver de perto a situação críticaHenrique Alves foi ao hospital ver de perto a situação crítica

























Deputado cobra repasses para Varela Santiago

A crise gerada pela falta de recursos no Hospital Infantil Varela Santiago chegou a um ponto ainda mais crítico. O déficit financeiro da entidade é histórico e os pedidos "de socorro" dos diretores do maior complexo hospitalar infantil do Estado são feitos "há muito tempo". Na semana passada, diante de mais uma crise, o diretor Paulo Xavier pediu afastamento afirmando que não irá reduzir o número de funcionários ou a qualidade dos serviços para diminuir o custeio do complexo.

Ontem pela manhã, o deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB) conversou com a diretora técnica da instituição, Águeda Trindade, e com o gerente administrativo, Régis Neto. Eles explicaram ao parlamentar que o Hospital tem para receber cerca de R$ 1,6 milhão em repasses federais (através da Prefeitura de Natal) e estaduais, mas nenhum dos entes governamentais informam quando os valores serão disponibilizados.

"Fiquei muito preocupado com as declarações do dr. Paulo Xavier. Vim saber o que estava acontecendo. Lamentavelmente, as decisões não estão se tornando reais. Há uma burocracia ou dificuldade da Prefeitura de Natal em repassar os recursos", comentou o deputado. Por telefone, Henrique Alves falou com a governadora Rosalba Ciarlini. Da Bahia, ela comentou que iria verificar os motivos pelos quais os repasses do programa Cidadão Nota 10 e do convênio com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), ainda não haviam ocorrido. Ela se dispôs a analisar a situação e contribuir com o hospital.

O Governo do Estado acumula um dívida para com o hospital estimada em R$ 865 mil - sendo R$ 500 mil do convênio e R$ 365 mil de repasses do programa de doação de notas fiscais. Dos recursos oriundos do programa de incentivo fiscal Cidadão Nota 10, restam aproximadamente R$ 245 mil que deixaram de ser pagos ao complexo hospitalar pelo governo Wilma de Faria/Iberê Ferreira de Souza e que ainda não foram quitados pelo atual Governo.

Já a Prefeitura de Natal, responsável por receber os valores oriundos do Ministério da Saúde e repassá-los ao Varela Santiago, ainda não depositou R$ 450 mil referentes ao mês de abril e mais R$ 332 mil para pagamentos de serviços e plantões dos médicos. A origem da monta não é municipal e sim federal. A Prefeitura de Natal apenas realiza o repasse pois o Hospital Infantil, por ser uma entidade beneficente, não pode receber os valores diretamente da União.

"Já existe, inclusive, um desgaste com a Prefeitura. Nós não sabemos o motivo do atraso pois o dinheiro nem é municipal", comentou o gerente administrativo, Régis Neto. De acordo com ele, o custo mensal do hospital gira em torno de R$ 1,1 milhão. Deste total, cerca de R$ 600 mil são gastos com a folha de pagamento de 400 funcionários. Há pelo menos sete meses, o déficit médio mensal do complexo é de R$ 200 mil. O deputado federal Henrique Alves definiu os atrasos como "absurdos".

Foi justamente essa diferença entre despesa e receita e a impossibilidade de sanar a problemática de uma vez por todas, que levou o diretor Paulo Xavier a se afastar. "Nós temos uma fragilidade econômica muito antiga. Nós só trabalhamos para o SUS e não temos como manter o hospital. Nosso principal problema é com a folha de pagamento. Eu estive na direção há doze anos e chegou a hora de entregar o cargo para outra pessoa. Torço para que o Hospital Infantil não se torne apenas mais um da rede estadual", afirmou Paulo Xavier.

Ele disse, ainda, que o diferencial do Varela Santiago é o atendimento de qualidade e o acesso à Saúde para quem não tem condições de financiar uma consulta ou tratamento. "Não queria ver o Hospital Infantil enterrado numa vala comum", lamentou Paulo Xavier. O deputado Henrique Alves garantiu que até o próximo dia 15 de maio, um repasse de R$ 1 milhão através de uma emenda constitucional já empenhada, deverá ser depositado na conta do hospital. Os recursos financiarão a compra de novos equipamentos para a unidade.

Suspeita de dengue lota unidades

Nos próximos dias, a secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) vai divulgar um novo boletim epidemiológico com os números da dengue. O último estudo apontava 6.864 casos notificados, dos quais 1.164 foram confirmados. O mais recente boletim da secretaria Municipal de Saúde (SMS) mostra uma curva ascendente no número de casos da doença e infestação predial. Somente na capital, as notificações beiravam os três mil casos até meados de abril. Nos postos de saúde e hospitais da cidade é fácil constatar que a doença é motivo de preocupação para população.

Aldair DantasNo Sandra Celeste movimento de pacientes tem sido intensoNo Sandra Celeste movimento de pacientes tem sido intenso

Na tarde de ontem, a recepção do Pronto-Socorro Infantil Sandra Celeste estava lotada. Pais segurando os filhos no colo, outros sentados na escada e alguns, por falta de espaço e acomodação adequada, aguardavam o atendimento médico do lado de fora do prédio. A equipe de reportagem conversou com algumas dessas pessoas e constatou que a maioria queixava-se de sintomas da dengue.

O casal formado pelo porteiro Luiz Sales e a dona de casa Maria José aguardava que o filho, Marcelo Santos, 6 anos, fosse atendido. Eles chegaram ao Pronto-Socorro antes do meio dia e o tempo de espera já passava de três horas. O motivo da ida ao posto médico era a febre do garoto. "Faz uns dias que ele está com febre e uma moleza no corpo. Eu acho que é dengue", disse a mãe. A família mora em Nova Natal e não sabia que horas voltaria para casa. "Do jeito que está lotado, devemos chegar só à noite", disse Luiz.

Na unidade médica, três médicos plantonistas atendiam os pacientes. Além de bairros distantes de Candelária, onde a unidade está localizada, os pacientes vinham de outras cidades como São Gonçalo e Parnamirim. De acordo com a enfermeira Juliana Santos, o movimento no local cresceu nas últimas semanas. "Os casos de suspeita de dengue realmente têm crescido nos últimos dias", afirmou. Os pacientes com a suspeita têm que retornar ao Pronto-Socorro dois dias após o primeiro atendimento para confirmar ou descartas a suspeita. "Por isso estamos com tanta gente aguardando atendimento", explicou.

De acordo com os últimos boletins epidemiológicos da SMS, os bairros do Bom Pastor, Quintas, Dix-Sept-Rosado, Lagoa Seca, Barro Vermelho, Alecrim, Cidade Alta, Petrópolis e Rocas são os que apresentam a maior incidência de dengue em Natal. Além disso, segundo o Programa Estadual de Controle da Dengue (PECD), da Sesap, 84 municípios potiguares apresentam baixa incidência da doença, enquanto 23 encontram-se com média, 19 registram alta e 41 estão com incidência silenciosa. O próximo boletim epidemiológico deve ser publicado ainda nessa semana.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O caos visto de perto

Saúde - Hospital Walfredo Gurgel - RN


Comissão faz visita-surpresa ao maior pronto-socorro do RN para verificar superlotação e qualidade do atendimento


P rocurando conhecer de perto a realidade do maior pronto-socorro do Rio Grande do Norte, uma comissão de órgãos ligados à saúde visitou durante à manhã de ontem o Clóvis Sarinho e encontrou uma situação conhecida por todos, mas que ainda choca o mais experimentado dos profissionais da área. Dezenas de macas e até cadeiras espalhadas por, literalmente, todos os cantos do setor de observação e de politrauma do maior hospital do Estado. Desde a já conhecida prática de "internação" nos corredores até a colocação de pacientes no hall do elevador, como foi visto pela reportagem e pelos integrantes do Conselho Regional de Medicina (Cremern), do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RN) e da seccional potiguar da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RN), através da Comissão de Direitos da Saúde.


Comissão de entidades ligadas à Saúde está visitando principais unidades do estado e poderá ingressar com ação na Justiça. Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press
A visita de ontem faz parte de uma programação firmada pelos órgãos, que também já passou pelo Hospital Regional Tarcísio Maia, em Mossoró, e deverá passar ainda por outras unidades de saúde do estado, a fim de confeccionar um relatório sobre a situação da saúde pública potiguar. Dependendo do que for constatado, é possível que seja impetrada, em conjunto, uma ação civil pública em vista de melhorias na saúde.

A visita foi uma surpresa para a direção do hospital e para o secretário estadual de saúde Domício Arruda, que acompanharam os representantes dos conselhos e da OAB por todo o pronto-socorro. A comissão conheceu áreas de observação médica, de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e o centro cirúrgico espalhados pelos três andares do Clóvis Sarinho. Passando por estes lugares, as classificações dos profissionais para a situação do pronto-socorro foram desde "porta do inferno" até "cenário de guerra".

Os exemplos tanto de falta de profissionais como de superlotação, que há anos tiram o sono de quem trabalha e também de quem gere o Walfredo Gurgel, saltavam aos olhos. Pacientes que sofreram acidente vascular cerebral (AVC) sentados em cadeiras aolongo do corredor, outros postos em cima de macas das ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) - apenas em um corredor foram contadas seis macas - que se somam às mais de 100 macas do próprio hospital. Chamar de caos a situação ainda era pouco para o que se via pelo Clóvis Sarinho. Até mesmo no Centro de Recuperação Pós-Operatório (CRO) os pacientes estavam alocados nos corredores.

Sem acompanhmento
Espalhados pelos quatro corredores da área de observação médica estavam, na manhã de ontem, 74 pacientes, acompanhados por apenas quatro técnicos de enfermagem. A demanda de atendimentos tornou-se tão alta que os profissionais agora limitam-se a acompanhar os sinais vitais e aplicar os medicamentos. "Muitos aqui ficam sem a visita de um médico e terminam não recebendo a medicação. Só que os acompanhantes não entendem que só podemos passar medicamentos com prescrição média e nos acusam de negligência", afirmou a enfermeira Gracinalda Barbosa, gerente do pronto-socorro. O médico plantonista dosetor de reanimação chegou a ironizar a situação do hospital. "O plantão hoje ainda está de parabéns, tem até um tensiômetro para nós usarmos", contou o médico. O tensiômetro é o aparelho usado para medir a pressão arterial. "Aqui o céu é o limite. Onde tiver ponto de oxigênio estão sendo entubados pacientes. Hoje tem um na observação médica que está com ventilação mecânica, mas não tem acompanhamento", confessou Gracinalda.

Soluções paliativas para um problema crônico

A situação de caos no Hospital Walfredo Gurgel, ao que parece, irá suscitar medidas emergenciais para abrandar a situação de superlotação, já conhecida de todo o RN. A inclusão do hospital no programa federal SOS Emergência, que deverá proporcionar a contratação de 100 leitos fora do hospital como meio de desafogar o HWG, é vista como uma esperança de melhorias. "Espero uma boa resposta em breve. Mas, esta é apenas a solução do momento. É uma medida paliativa para um problema crônico, de deficiência de todo o estado", comentou o diretor geral do hospital Mozar Dias de Almeida.

Segundo o diretor, a situação financeira do hospital também vem acarretando problemas. "Tivemos o estoque de anestésicos zerado esta semana por falta de material, devido a falta de pagamento a alguns fornecedores. O hospital tem um orçamento de R$ 1 milhão mensal, mas que muitas vezes é extrapolado por conta da superlotação", afirmou ele. De acordo com o secretário estadual de saúde Domício Arruda, a busca pela resolução das dívidas está em curso. "Estamos fazendo o possível com os recursos disponíveis. Deverá ser feito um pagamento emergencial, já que a dívida com os fornecedores do Walfredo é de R$ 380 mil", explicou Domício. Ainda não há data para que o pagamento seja efetuado.

Constatada a situação extrema em que se encontra o pronto-socorro do maior hospital público potiguar, o próximo passo, segundo os integrantes da comissão de visita, é buscar as soluções. "A superlotação é um problema crônico de todo o RN. Mas, como aqui ainda tem condições de atender, mesmo sendo no corredor, mas atende, temos que cobrar pelo menos o mínimo de dignidade no atendimento", disse a presidente da comissão de direitos da saúde da OAB-RN Elisângela Fernandes. Ainda de acordo com ela, a solução mais complexa também será cobrada.

"O papel da OAB será de pressionar os gestores para uma solução a longo prazo. O Walfredo não é o vilão, a saúde é um problema geral. A quantidade de municípios que mandam paciente para cá, a 'ambulancioterapia', também atrapalha. Os gestores municipais pegam o dinheiro infelizmente para comprar ambulância, porquê dá voto", lamentou Elisângela. Ainda sem data certa, deverão ocorrer visitas em outros hospitais do RN e por essa razão o relatório da comissão ainda não tem data para ser confeccionado.