terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Médico relata caos no Walfredo em tempo real

Um cirurgião do Estado furou a barreira de silêncio que se ergueu em torno do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HWG) e, usando o microblog twitter contou, em tempo real, o drama dele em busca de uma sala de cirurgia na madrugada de ontem. A saga de Allan Filgueira (twitter.com/allanfilgueira) - entre a indicação cirúrgica do paciente com o estômago perfurado e o procedimento se passaram seis horas de luta por maca, sala e equipe – foi alternada com frases de desabafo. “Quer um conselho? Evite acidentar-se”, escreveu em um certo momento. No último post, comparou a sala do Politrauma (onde os pacientes recebem os primeiros socorros) a uma guerra. “O Politrauma está um caos! Faixa de Gaza! Quer ser cirurgião?” (Leia a reprodução ao lado). O acesso ao HWG é fechado aos repórteres e fotógrafos.



No dia seguinte, o médico recebeu mensagens, via twitter, de seguidores emocionados com o relato e também foi procurado por jornalistas.



Quando dedilhava o iPad no calor do plantão, Allan Filgueira não imaginava a repercussão que sua história teria. “Foi um desabafo. Eu não pensava em denúncia social. Eu ando revoltado. Esses problemas não são novidade, mas a gente espera que melhore e só piora”, disse. Ninguém do corpo administrativo do Walfredo se solidarizou com o funcionário.



Entre plantonistas, se difundiu a história das “cinco barreiras” que podem separar a indicação cirúrgica do bisturi em dias movimentados: primeiro é preciso conseguir maca, depois a roupa do centro cirúrgico, a sala, a equipe e, por fim, o anestesista (especialidade escassa no HWG). São seis salas de cirurgia e menor número de equipes de plantão. Ontem, eram apenas duas equipes.



O paciente do estômago perfurado passou três horas para ter uma maca e mais três na fila da cirurgia. “São coisas que a faculdade não ensina: a gente decidir quem vai primeiro e quem vai ficar sofrendo”. Como estava compensado, esse paciente ficou atrás de outros com traumas mais graves.



Essa não foi a primeira vez que Allan desnudou o caos do maior hospital do Estado no twitter. “Ninguém liga muito para o Walfredo. A classe média acha que tem plano de saúde e nunca vai precisar dele”. Certo de que divulgar é o único caminho para melhorar, o cirurgião pretende intensificar as denúncias no microblog.



Cooperativa médica ameaça suspeder contrato



Os médicos da Cooperativa Médica do Rio Grande do Norte – que prestam serviços de alta e média complexidade para a Secretaria Estadual de Saúde, além de plantões no hospital Deoclécio Marques, CRO do Walfredo Gurgel e a neonatal do hospital da Polícia Militar – ameaçam suspender dos contratos com a Sesap. Representantes da cooperativa se reuniram na noite de ontem para definir a postura em relação ao contrato com o Governo do Estado, mas até o fechamento desta edição não haviam chegado ao consenso.



Segundo o presidente da Coopmed, Fernando Pinto, o pagamento desses convênios está atrasado há mais de 90 dias. “A dívida está em quase em R$ 2,2 milhões. Os médicos do Deoclécio [Hospital Regional Deoclécio Marques de Lucena, em Parnamirim] não recebem desde agosto; ou seja, o pessoal da ortopedia está há cinco meses sem receber”, disse Fernando Pinto.



Esse hospital, que realiza cerca de mil atendimentos por mês só em ortopedia e 150 cirurgias também terá os contratos suspensos. “O Deoclécio dá suporte ao Walfredo Gurgel. Sem o funcionamento normal do hospital de Parnamirim, a situação do HWG ficará mais complicada”, alertou Fernando Pinto.



Atualmente, cerca de 500 médicos da Coopmed prestam serviços à Sesap. São 36 especialidades entre Neurocirurgia, cirurgia cardíaca e oncologia da LIGA.

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