segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

50 anos do Governo da Esperança: O tempo das mudanças

Politica - RN 
Especial Aluizio Alves




A história política do Rio Grande do Norte registra o cinquentenário de uma administração que marcou época e se mantém influente. Eleito após uma campanha inusitada e nunca mais repetida por outro político estadual, Aluízio Alves lançou as bases da modernidade que - ainda incompleta - o RN tenta concretizar. No dia 31 de janeiro de 1961 começava o “Governo da Esperança”.

O início de como tudo mudou



Desenvolvimento, modernidade, industrialização, mudanças que tirariam o Rio Grande do Norte da condição de estado dependente das ajudas federais, levando-o a ser protagonista do próprio crescimento socioeconômico. Foi com essas propostas que o jovem deputado federal Aluizio Alves (com 39 anos anos) tomou posse como governador do Rio Grande do Norte em 31 de janeiro de 1961. Cinquenta anos depois, elas não chegam a ser uma realidade completa e acabada e, por isso mesmo, não perdem a validade.
Ao final de uma campanha eleitoral que virou de cabeça para baixo o cenário político-partidário do estado, o governo Aluízio Alves pretendia revolucionar a administração pública, inovando e modernizando as ações de governo através da ação dinâmica de uma equipe jovem e inspirada nos ideais desenvolvimentistas de Celso Furtado. A ideia fixa, recomendada pelo novo governador a todos os auxiliares, era “construir as condições básicas para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte”.
Percorrendo uma trajetória onde política, jornalismo, leituras e estudos, propostas e debates sobre os problemas economicos e sociais nacionais e regionais sempre estiveram presentes, Aluízio Alves tinha consciência, da situação em que se encontrava o Rio Grande do Norte: uma região atrasada, subdesenvolvida e totalmente desestruturada para pleitear um lugar no rol das políticas de desenvolvimento industrial que o Brasil experimentava. A máquina administrativa do governo, herdada de uma tradição de apadrinhamentos e empreguismo, era absoleta, com servidores desatualizados quanto as novas técnicas de administração pública. Sequer existia uma secretaria de Planejamento ou algo parecido. As finanças, sem qualquer controle técnico ou política fiscal, estavam confusas, com o funcionalismo e os fornecedores do governo sem receber pagamentos há sete meses.
A realidade era desmotivadora, mas o novo governo tenha pressa. Começou por por melhorar o nível dos funcionários, através de cursos, criando gratificações e dando promoções aos que participassem desses treinamentos. Era uma ação básica para reconquistar o entusiasmo do funcionalismo, mas não o suficiente para modernizar o processo administrativo.
A máquina burocrática, arcaica e ultrapassada, não oferecia condições para atender a demanda de tantas iniciativas. Para suplantar tais obstáculos, o governo não vacilou em criar novas instituições. A medida que os desafios propostos foram sendo abordados, os projetos aprovados saiam do papel e as novas exigências se apresentavam às ações do governo, foram sendo criadas secretarias especificas para cada áreas, a partir de grupos de trabalho. Entre todas as necessidades, para iniciar o processo de desenvolvimento industrial que o governo propunha implantar, era necessário, sobretudo, energia farta e barata, facilidade de comunicação com os grandes centros urbanos e boas estradas.
Entre 1961 e 1964, o Rio Grande do Norte viu surgirem a Companhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte (Cosern), a Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte (Telern), o Serviço Cooperativo de Educação (Secern), a Companhia de Habitação (Cohab/RN) e a Codern (Companhia de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte), instituição que tenha o encargo de planejar o desenvolvimento, orientando os investimentos que modificariam a estrutura econômica do Rio Grande do Norte.
O “Governo da Esprança”, como foi batizado pelos aliados e partidários de Aluízio Alves, durou 1.825 dias e, segundo cálculos do pesquisador Luiz Antonio Porpino – um dos auxiliares pessoais do então governador - construiu cerca de 1.300 obras. O homem que o conduziu, tentando mudar a face oligarca da política e o coronelismo administrativo potiguares, não obteve sucesso em tudo que propôs.
Governador aos 39 anos, fez o sucessor e voltou à Câmara Federal, mas acabou cassado pela ditadura militar que se instalará no país em abril de 1964. Passou 20 anos afastado da política. No regresso, não conseguiu um novo mandato para governador, mas foi deputado federal por mais um mandato e ministro de Estado por duas vezes. Morreu em 2006, com alguns sonhos realizados e outros ainda por realizar. Por ter criado as condições para que o Estado pudesse se desenvolver, pela modernização que implantou, o governo de Aluízio Alves foi considerado - por alguns - como “revolucionário”. Por outros, foi um período de “populismo e demagogia”.
O principal personagem dele – Aluízio Alves – nunca quis nem procurou a unanimidade. Em um texto memorialístico, admite: “Lutei. Sofri injustiças. Cometi involuntariamente outras Despertei amor e gerei ódios Conquistei o povo, perdi amigos e ganhei inimigos”. Contra ou favor do que o governo dele realizou ou deixou de fazer, a verdade histórica permanece: o Rio Grande do Norte nunca mais foi o mesmo depois de 31 de janeiro de 1961, quando começou o “Governo da Esperança”.


A ousadia no poder


Aluízio Alves foi empossado chefe do Executivo Estadual no dia 31 de janeiro de 1961, no Teatro Alberto Maranhão, sucedendo ao governador Dinarte Mariz.. Depois da festa, o mesmo clima de inovação e mudanças que marcou a campanha eleitoral subiu as escadarias do Palácio Potengi (dali a pouco rebatizado “Palácio da Esperança”), instalou-se no gabinete do novo governador e se estendeu por todo o governo que começava. Nada devia ser como antes, tudo devia mudar, o novo nunca foi convencional.

“Se chegássemos no gabinete dele (Aluízio) com ideias palpáveis, embora consideradas mirabolantes para a época, ele investia sem temor”, rememorou o ex-secretário de Planejamento daquele governo, Geraldo Melo. Na época, ele era um jovem aspirante a administrador, recém-formado nas ideias desenvolvimentistas e que, anos depois, seria também governador (1986-1990) do Rio Grande do Norte. Geraldo Melo lembra que “foi assim mesmo, sem meias delongas” que Aluizio decidiu engajar o governo do estado na criação de estatais para as áreas de telefonia, energia elétrica, abastecimento e um programa inovador na área de habitação.
Podiam ser ideias “mirabolantes” face o estilo tradicional de governar, mas Geraldo Melo lembra que o ano de 1960 disseminou no povo potiguar a esperança advinda de uma retumbante vitória nas urnas e essa era a base necessária para que Aluizio e a equipe de jovens e audaciosos auxiliares que reuniu desfrutassem da confiança e da aprovação popular para qualquer experimento que imaginassem fazer. Acabou sendo, avaliam os historiadores, uma “grande virada na história política e administrativa do Rio Grande do Norte”.
Antes de 1961, a população do Rio Grande do Norte era desprovida de necessidades básicas. Um exemplo, cita Geraldo Melo, era a dependência do governo potiguar de uma empresa estrangeira que obtinha a concessão por um período de 90 anos para sistematizar a operação de água e esgoto da capital e interior. O resultado já se pode imaginar: recorrentes reclamações por um abastecimento indesejoso. O governo de Aluízio acabou com a concessão e criou a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern).
Exemplo ainda mais prosaico do arcaismo em que se encontrava o RN e do impacto das mudanças propostas pelo novo governo ocorreu na área das comunicações. Até aquela data, a capital do Rio Grande do Norte comunicava-se com o mundo através de apenas 500 linhas telefônicas. Talvez este seja o arsenal hoje de um edifício de grande porte. “Criamos a Telern (antiga Empresa de Telecomunicações do Estado) e fizemos a primeira ampliação do sistema telefônico com mais de duas mil linhas”, lembra Geraldo. O interior também ganhou o novo empreendimento.
“O projeto da Telern foi feito no meu gabinete e tem uma história deliciosa. Eu levei para Aluízio a ideia e expliquei que levaríamos para o interior um sistema chamado de microondas. Eu disse a ele que iríamos ligar para o interior e que poderíamos falar sem o auxílio de telefonista. E ele disse: você tá querendo dizer que eu vou pegar esse telefone e ligar pra Angicos (terra natal de Aluízio)? Eu disse que sim. Ele ficou olhando para mim e depois disse: ‘É por causa dessas ideias malucas, Geraldo, que o povo do RN diz que você é doido. Como eu não tenho juízo me dê para cá esse projeto’. Autorizou e assinou o projeto de lei que daria nascedouro à Telern”.
Tal “falta de juízo” era justamente o que desnorteava os adversários dos planos do novo governador e, traduzida em “ousadia”, alimentava a confiança dos auxiliares, investidores e as lideranças nacionais em relação ao desempenho do “Governo da Esperança”. “Aluízio foi um homem com capacidade de ousar e o primeiro gesto foi botar um rapaz com 25 anos de idade na Secretaria de Planejamento”, relata ainda Geraldo Melo. Com o ingresso dele no cargo criou-se um Conselho Estadual de Desenvolvimento com atribuições da atual Secretaria de Planejamento e das Finanças (Seplan). “O projeto da Cosern foi feito no meu gabinete. A ata de fundação mostra que quem fundou a Cosern foi a gestão de Aluízio e quem representou o Governo do Estado na Assembleia fui eu”, destacou Geraldo Melo.


Os dólares da Aliança para o Progresso


Aliança para o Progresso foi um programa que o governo dos Estados Unidos aplicou entre os anos de 1961 e 1970, com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico mediante a colaboração financeira e técnica em toda a América Latina a fim de não deixar aparecer um outro país com as características de Cuba, que havia promovido uma revolução popular em 1959 e rapidamente passou a esfera de influência soviética.
A origem da Aliança é uma proposta oficial do Presidente John F. Kennedy, no discurso que fez em março de 1961 durante uma recepção, na Casa Branca, aos embaixadores latino-americanos. Nos 10 anos de atuação, a Aliança faria um investimento de 20 mil milhões de dólares, principalmente da responsabilidade dos Estados Unidos, mas também de diversas organizações internacionais, países europeus e empresas privadas. A proposta foi depois pormenorizada na reunião ocorrida em Punta del Este, Uruguai, de 5 a 17 de Agosto, no Conselho Interamericano Económico e Social (CIES) da OEA. A Declaração e Carta de Punta del Este foram ambas aprovadas por todos os países presentes, com a excepção de Cuba.

Para um estado pobre como o Rio Grande do Norte, a perspectiva de conseguir os dólares e a assistência dos técnicos da Aliança para o Progresso eram irresistíveis. Nas memórias que escreveu, Aluizio atribui a uma certa “resistência da Sudene em aprovar os projetos e liberar recursos para o estado” a ideia de correr atrás do apoio norte-americano. Dentro das correntes “desenvolvimentistas” que norteavam as políticas federais e continentais, também não faltavam desconfianças em relação “as boas intenções” dos EUA. Setores à esquerda, no governo de João Goulart, a Aliança era vista como um projeto “neocolonialista”.
Com projetos prontos e a espera de recursos nacionais que não vinham para as áreas da educação, saúde, apoio à agricultura e formação profissionalizante, a equipe de jovens planejadores formada por Aluizio se desesperava. No segundo ano de governo, problemas políticos com a Assembléia Legislativa ameaçaram “tracar” o orçamento estadual e paralisar todo o governo. Em julho, o governador viajou aos Estados Unidos disposto a resolver, pessoalmente com o presidente Kennedy, os entraves que impediam a Aliança de chegar ao estado.
Deu sorte. Uma série de acasos facilitaram o acesso de Aluízio Alves à Casa Branca e em agosto o governo do Rio Grande do Norte assinava com a Aliança Para o Progresso convênios que, de início, previam investimentos de US$ 25 milhões no estado.


Novas ideias para um novo Estado


Considerado de escopo desenvolvimentista, face as investidas em grandes estruturas e a modernização implantada nas diversas áreas da administração, o governo de Aluízio Alves foi o responsável, por exemplo, pela aquisição dos terrenos, feitura do projeto de ocupação do espaço onde se construiu o primeiro conjunto habitacional do Rio Grande do Norte – na Cidade da Esperança.

“Naquele tempo não existia correção monetária e aí inventamos uma novidade no Brasil: o sujeito comprava a casa e nós estipulamos que o pagamento seria dez por cento do salário mínimo todo mês, por um período de vinte anos. Com isso garantimos um reajuste da prestação que o Estado ia receber”, relatou Geraldo Melo.

Depois dessa empreitada, foi criada uma entidade de habitação popular, que veio a se chamar depois Cohab. “Para a Cohab nós tivemos a imensa colaboração de dois arquitetos: Ubirajara Galvão (falecido) e João Maurício Fernandes. Ubirajara ganhou uma bolsa para fazer um curso na Colômbia. Naquele tempo formou-se uma equipe para estudar assuntos econômicos e de desenvolvimento. Essa era a marca da gestão”, acrescentou o ex-governador.

Geraldo Melo lembra com saudosismo a equipe técnica que atuou no período: “Aqui no RN, quando eu assumi a Secretaria de Planejamento, só havia duas pessoas que tinham autoridade para falar de assuntos econômicos: Aldo Fernandes e Ulisses de Góis. Nós formamos pessoas e aí é que vem o que importa, formamos uma equipe que talvez tenha sido a maior obra que eu realizei na minha vida. Formamos uma equipe que durante os 40 anos seguintes o RN não passou nenhum dia em que alguma dessas pessoas não fossem no mínimo Secretário de Estado. Talvez teríamos um outro Estado e contaríamos uma outra história se Aluízio não tivesse governado”, assinalou Geraldo Melo.

“Sem dúvida um desenvolvimentista. Talvez tenha sido o mais. Eu digo com autoridade de quem já foi governador que talvez no século passado o RN talvez tenha tido dois grandes governadores. Um cuja obra se projetou na esfera nitidamente política, que foi Dinarte Mariz. O outro, Aluízio Alves, cuja presença foi realmente o grande marco na direção do desenvolvimento econômico do RN”, finalizou Geraldo Melo.


50 anos do Governo da Esperança: A campanha da Esperança






Há 50 anos a população do Rio Grande do Norte acompanhava a posse de Aluízio Alves no governo. A campanha eleitoral que o levou ao cargo criou signos que identificaram o personagem por toda a vida. Os lenços verdes, galhos de árvores e a camisa verde de Aluízio Alves significam a esperança; o polegar levantado significa a vitória, diferenciando-se do seu opositor que é o “V” da vitória. Uma inovação que ocasionou muita mobilidade popular foi a transformação dos comícios, vigílias, caminhadas e passeatas em festa com orquestras e batucadas acompanhando as “ala-moças” que cantavam as marchas e os hinos da campanha. Parte dessas músicas de campanha e alguns discursos previamente preparados fazem parte do LP “Gentinha”. As ala-moças fizeram sucesso. Atraiam tantos os homens como as mulheres por onde passavam.



A análise das letras dessas músicas, dos cartazes e dos discursos previamente elaborados mostram Aluízio Alves como herói consagrado, predestinado a cumprir sua odisséia, convocado “pela mais poderosa força de convocação: a voz do povo”. Para cumprir a missão de redimir esse mesmo povo da miséria e de “abrir para todos a Porta da Esperança”. Essa é a mensagem do discurso de início da campanha e que faz parte do LP da “Gentinha”.“Vim para lutar. Vim para ficar. Vim para vencer. Nada me impedir de vir: nenhum obstáculo, nenhum receio, nenhuma acomodação.”

Aluizio chegava ao governo do Rio Grande do Norte em uma época de mudanças políticas em todo o país. Para a presidência da República, Jânio Quadros havia derrotado o marechal Henrique Lott, até então considerado o mais forte candidato ao governo. A candidatura de Aluizio havia sido lançada pelo Partido Social Democrático - PSD e pelo Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, contra o nome do advogado Djalma Marinho, candidato da UDN – partido ao qual Aluizio pertencia e que não lhe apoiou devido as desavenças com o então deputado Dinarte Mariz. Mais de uma vez, Aluízio relembrou as origens desse episódio.
“Ao contrário de 1958, quando fizera a candidatura de Dixhuit para senador, em vez da de José Augusto, para evitar a exigência da candidatura de Vingt para governador em 1960, perguntou- me se eu o apoiaria. Disse-lhe que tinha com ele boas relações, mas achava difícil a UDN, que cedera a senadoria ao PR - pequeno partido quase limitado a Mossoró - concordasse em entregar-lhe o governo. Não me deu resposta. Veio a Natal e, dias depois, surpreendeu-me com a intervenção, mediante seu voto de desempate, votos de 33 dos 63 diretórios municipais da UDN que, supunha, me apoiariam. Esqueceu que eu tinha também a metade dos delegados natos e a maioria do Diretório de Natal, após a campanha de 1958. Com receio da reação das bases do partido, fez candidato Djalma Marinho, a quem admirava, mas não considerava um temperamento executivo. Vingt foi candidato a vice-governador. Não tive outro caminho. Com a convenção praticamente unânime que teria, após a intervenção dos diretórios, aceitei ser candidato por uma dissidência. Grupos de estudantes, liderados por Quinho Alves, criaram a ‘Cruzada da Esperança’, que adotei como legenda da campanha. E comecei as articulações com as demais forças políticas, pretendendo somá-las em torno de uma candidatura de oposição.”
Os udenistas, aliados ao Partido Republicano - PR e ao Partido Social Trabalhista - PST, apontaram como candidato oficial o deputado federal Djalma Marinho. Tendo como candidato a vicegovernador o monsenhor Walfredo Gurgel, Aluízio Alves obteve 121.076 votos, contra 98.195 de Djalma Marinho. Em janeiro de 1961, renunciou ao mandato de deputado, tomando posse como governador no dia 31 do mesmo mês.


Herança comprometida com as mudanças


Herdeiros políticos de Aluízio Alves, o deputado federal Henrique Alves, o ministro Garibaldi Alves e o deputado estadual Agnelo Alves recordaram o período, segundo eles, “inovador e revolucionário” pelo qual passou o Rio Grande do Norte quando comandado pelo pai, tio e irmão.
O líder do PMDB na Câmara Federal, Henrique Alves, disse que considera o pai o político mais importante da história do Rio Grande do Norte. “E o seu governo prova isso. Pela ousadia, pela criatividade, e, principalmente, pela sua capacidade de se comunicar e de se envolver com as camadas mais pobres e mais carentes do nosso Estado”. O sobrinho Garibaldi afirmou que tem no maior líder do PMDB potiguar o “eterno exemplo de homem público”. Para o irmão Agnelo, chefe de Gabinete durante o governo iniciado em 1961, “ficará para sempre na memória o apoio popular permanente e o contato de Aluízio com o povo durante os cinco anos de gestão”.
O deputado Henrique Alves destacou que é sempre emocionante lembrar a visão intensa da cena política potiguar, desde criança, vivenciando uma casa sempre muito cheia de políticos, de amigos, de populares. “Aluízio não fazia diferença de classes e de posturas. As pessoas o procuravam e sempre tinham dele uma palavra”. Para o filho, o corpo a corpo característico do pai com a população mais carente traz uma recordação ímpar, sobretudo durante o período de atuação pública. “A lembrança maior era o contato com todos e a relação tão saborosa e carinhosa com os mais pobres e mais humildades do Estado”.
Considerado um dos maiores líderes políticos da história do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves foi inspiração permanente na atuação do sobrinho Garibaldi Alves, duas vezes governador do Estado. “Eu encontrei nele uma grande inspiração para fazer no meu governo o programa de águas, que chegou a todo o Estado. Como não lembrar da administração revolucionária, um governo que deu uma nova infraestrutura ao Estado, em termos do seu desenvolvimento?”, assinalou o ministro. Garibaldi rememora a adolescência quando junto aos primos acompanhavam de perto a atuação dos tios políticos.
O deputado Agnelo Alves exalta ainda o período de turbulência, com radicalismos e entre partidos e candidatos divergentes. Para ele, a tranquilidade e segurança de Aluízio Alves quando das tomadas de decisões eram precisas. “aluízio sempre transmitiu muita segurança nas suas atitudes e isso era essencial naquela época”.


“Um divisor de águas”


Qualificação constante de recursos humanos, estímulo a ideias eficazes e busca incessante por novas fontes de investimento. Três características comuns às gestões públicas do século 21 em plena década de 60 do século passado. Para o deputado estadual José Dias (PMDB), cunhado do ex-governador, essas preocupações do então governador Aluízio Alves demonstram o pioneirismo do mandato iniciado em 1961.
“Foi um divisor de águas para o Rio Grande do Norte. Principalmente porque se vinha de um governo anterior que nada devia, em sua improvisação e incapacidade, às práticas existentes no século 19”, reforça. O hoje deputado iniciou a participação no governo Aluízio Alves como assessor da Fundação de Habitação Popular, que teve como primeiro presidente Agnelo Alves.
José Dias acompanhou a construção da Cidade da Esperança, primeira experiência de habitação popular no estado e um modelo para todo o Brasil. Ele, que assumiu a presidência da fundação habitacional do estado em 1964, recorda que Aluízio Alves teve de convencer Celso Furtado, mais interessado em investimentos em indústrias, a aplicar recursos na área habitacional, para viabilizar o sonho de muitas famílias carentes.
“Na verdade, havia todo um grupo jovem que foi estimulado e atraído por Aluízio Alves a participar do governo e a assumir a responsabilidade de executar as ações”, destaca. José Dias enfatiza ainda a importância dada pelo então governador à qualificação dos profissionais do estado e também na busca por cursos junto a órgãos como a Cepal, Sudene e a Fundação Getúlio Vargas .
“Foi uma administração revolucionária que não frustrou as expectativas criadas após uma campanha histórica”, resume.


Posse com entusiasmo popular


A posse do governador Aluízio Alves foi mais do que um ato formal para oficializar o início de um mandato eletivo. A participação popular nas comemorações que iniciaram no dia da posse, 31 de janeiro de 1961, uma terça-feira, e prosseguiram até a quarta-feira, 1º de fevereiro, foi marcada pelo mesmo entusiasmo da histórica campanha eleitoral que no ano anterior escolheu Aluízio Alves para governar o Rio Grande do Norte.


Nos dias que antecederam a posse, os jornais noticiavam a viagem de Aluízio Alves do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte. “Governador Aluízio Alves embarcará pelo ‘Vera Cruz’ com destino a Natal. Viajará saindo do Porto do Rio de Janeiro, escalando em Recife, e de lá, de automóvel para Natal, a fim de se empossar no Governo do Estado”, destacou a TRIBUNA DO NORTE (26.01.1961).
Para o dia 31 de janeiro, foi preparada uma inusitada programação, que se tornou extensa, ao atender às reivindicações de milhares de eleitores de Aluízio Alves, que se engajaram na campanha da Cruzada da Esperança, em busca de novos horizontes para o Rio Grande do Norte.
O início da manifestação foi marcado para as 7 horas da manhã da terça-feira. Durante mais de três horas, foram percorridas 40 ruas e avenidas, desde a “corrente de Macaíba (Posto Fiscal)”, até a Catedral Metropolitana, onde o vice-governador eleito — Monsenhor Walfredo Gurgel — celebrou a missa em ação de graças.
Concluída a solenidade religiosa, o novo governador ficou à disposição dos jornalistas que demonstravam curiosidade sobre os planos do novo governo e as implicações do embate político que teve repercussões locais, atingindo todas áreas de comunicação, chegando a ultrapassar as fronteiras nacionais.
À tarde, por volta das 15h, começou a solenidade oficial; posse presente à Assembléia Legislativa, que à época estava instalada na avenida Getúlio Vargas.
O centro nevrálgico das ações políticas e partidárias, onde era a sede do Comitê Central da Cruzada da Esperança, na confluência da Avenida Rio Branco e João Pessoa (Grande Ponto), às 16h30, houve a solenidade da entrega solene da Bandeira da Esperança ao governador Aluízio Alves.
Ao cair da tarde, registrou-se a transmissão de Poderes em frente ao Palácio do Governo, que passou a ser conhecido por Palácio da Esperança.
Concluída as formalidades oficiais, a população, que durante muitos meses acompanhou Aluízio em todos os recantos do Rio Grande do Norte, entregou-se às festividades do Carnaval da Esperança, que ultrapassou toda a noite e alcançou o auge, já ao meio-dia de 1º de fevereiro.
Aluízio Alves, eterno sonhador, criador de situações que despertaram tantos comentários – prós e contra – trouxe para o estado métodos até então, fora de uso: as pesquisas orientadoras, o marketing institucional, a participação de todas as faixas etárias, acompanhamento de pessoas de todas as origens sociais, econômico/financeiras, credos diversos.
Um diferencial dessa mobilização foi a constante participação das crianças, durante toda a campanha da Cruzada da Esperança. Por isso, um dos primeiros atos festivos, após a posse em 1º de janeiro, foi a Festa das Crianças, no Pátio do Alecrim, reunindo milhares de “eleitores mirins de Aluízio”.
O registro mais veemente, do que representou a vitória de 03 de outubro de 1960, que elevou à condição de Governador – Aluízio – e Monsenhor Walfredo, vice-governador, foi a participação de todos os setores da população norte-rio-grandense. As classes produtoras, a juventude, os estudantes, os militares, os religiosos de tendências, as mais diversas, lutaram para que Aluízio Alves passasse a dirigir os destinos do RN.
Um destaque foi a participação, sempre elogiada da “Ala Moça da Mina Brejuí”, de Currais Novos, cujo patrono, o desembargador Thomaz Salustino, amigo de Aluízio e Monsenhor Walfredo, sob o comando da professora Anita Medeiros, promoveram um espetáculo à parte, nas comemorações da posse do novo governo.



Fonte:Tribuna do Norte

Nenhum comentário:

Postar um comentário