segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cirurgia cardíaca: de volta à vida normal

Saúde - RN


Isaac Ribeiro - repórter da Tribuna do Norte


O avanço da medicina faz cair por terra o velho mito de que quem é operado do coração está no final da vida. A tecnologia tem contribuído bastante para tornar o diagnóstico mais preciso, os procedimentos cirúrgicos mais eficazes e menos prolongada a recuperação, com o retorno às atividades cotidianas sendo abreviado. Isso vale para cirurgias cardíacas mais complexas, colocação de pontas de safena ou mamária, vascularização, angioplastia, implante de stent ou marca-passo.


Mas cada paciente representa um caso isolado e suas condições clínicas e histórico de hábitos de vida estão diretamente atrelados a um bom pós-operatório e consequente volta à “normalidade” cotidiana.


De acordo com o cardiologista Itamar Oliveira, presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Norte, apenas cerca de 30% dos pacientes são submetidos à cirurgia cardíaca. A grande maioria, cerca de 80%, é de casos passíveis de solução com a colocação de stent, espécie de pequenos balões inseridos no interior das artérias, que, ao serem inflados, desobstruem o vaso, reestabelecendo o fluxo de sangue (ver gráfico na página 3).

Itamar Oliveira é presidente da Sociedade de Cardiologia do RN
 Itamar Oliveira diz realizar uma média de 700 procedimentos de colocação de stents por ano, com retorno à vida normal mais rápido do que muita gente imagina. “Hoje, noventa por cento dos nossos pacientes de angioplastia fazem o procedimento num dia e no outro vão embora para casa. E no outro, dependendo do caso, podem viajar, trabalhar, enfim, fazer o que quiser. Já tive paciente que fez angioplastia e no outro dia foi para os Estados Unidos.”



Porém, para casos mais complicados, um infarto agudo do miocárdio, por exemplo, a volta às atividades é mais demorada, dependendo do tamanho do fato e da circunstância do paciente. “Aqueles bem tratados, com recuperação da artéria, e que obtiveram sucesso no tratamento, esses sim podem voltar a ter uma atividade, começar tudo bem devagarzinho... As restrições maiores são quanto à cicatrização do corte”, comenta o cardiologista. “Mas hoje a volta é bem precoce.”


Na angioplastia, a maioria logo se reestabelece, segundo Itamar Oliveira. “Pode voltar a ter vida sexual quando chegar em casa; e até usar viagra, dependendo da medicação que esteja usando.” Com relação a exercícios físicos, a recomendação, além da medicação, é não fazer exercícios que provoquem, muita desidratação, perda líquida.


DETECTANDO O PROBLEMA


O paciente com suspeita de algum distúrbio cardíaco tem sua situação clínica diagnosticada através de eletrocardiograma, teste de esforço, exame de enzimas, sendo o cateterismo o que vai mostrar se realmente há obstrução da artéria por placas de gordura. E se o caso é para cirurgia ou angioplastia, ambos denominados procedimentos de revascularização, sendo a colocação de stent menos invasiva, sem necessidade de abrir o peito do paciente.


“É no cateterismo que julgamos a necessidade do paciente ir para a cirurgia, para angioplastia ou ficar em tratamento clínico. Introduzimos sondas adequadas e através do sistema de imagens de raio-X que passa pelo paciente, nós injetamos nele uma substância chamada contraste, que vai delinear a luz na artéria e mostrar se ela tem obstruções ou não.”


Disciplina e repouso são fundamentais para uma boa recuperação


Hoje faz exatos 65 dias que Domingos Sávio da Costa Souza, 60 anos, empresário do setor de produção de vídeo, mais conhecido entre os amigos como Perón, foi submetido à uma cirurgia para colocação de uma ponte de safena e outra mamária. O motivo foi obstrução de 80% de uma artéria coronária. Antes disso, ele já tinha recebido três stents no coração.


Perón classifica seu pós-operatório como maravilhoso e confere todos os méritos de sua recuperação à equipe que o atendeu. “Foi muito importante a tranquilidade que todos me passaram”, comenta ele, afirmando ainda não ter sentido uma única dor durante todo o processo. “É uma situação que exige muito de cada um; do estado físico e da cabeça de cada pessoa.”


De temperamento inquieto e “muito elétrico”, Perón confessa estar incomodado com o tédio imposto pelo pós-operatório. Mas compreende a necessidade do repouso. “É melhor perder uns dias em casa, repousando, sendo disciplinado, do que ter alguma complicação. É manter a cabeça fria, ler alguns livros, ver tevê e relaxar ao máximo”, recomenda.


Mas o empresário já está liberado pelos médicos para realizar pequenos passeios e sabe que com 90 dias de cirurgia poderá voltar a dirigir. Por enquanto, tem caminhado por meia hora na área aberta do prédio onde mora.


Os problemas cardíacos de Perón não são de hoje. Há cinco anos passou a sentir um aperto à altura da garganta, na região do esôfago. “Não era dor; era algo que incomodava muito, mas não dá para explicar.” Um cateterismo realizado, à época, não detectou nenhuma obstrução. Os sintomas voltaram após um ano, mais fortes e mais frequentes. Uma nova bateria de exames — eletrocardiograma, teste de enzima, cateterismo e eco-estresse — acusou três artérias comprometidas. Foram colocados stents.


Mas mesmo assim, os problemas continuaram. E um novo e forte mal-estar foi sentido enquanto caminhava com amigos no Bosque dos Namorados. Foi tomada então a decisão de que era hora de realizar a cirurgia cardíaca. Embora tenha sido fumante por trinta anos, o empresário já havia abandonado o tabagismo, fazia dieta e estava oito quilos mais magro. “Não foi abuso de cigarro, bebida, frituras.”


DIFÍCIL READAPTAÇÃO


Já o jornalista Marcílio Amorim, que sofreu um infarto no início do ano passado, confessa não estar conseguindo seguir à risca as recomendações feitas por sua médica para depois da angioplastia a que foi submetido. Ela recomendou uma vida menos estressante, diminuição de peso com atividade física e alimentação balanceada. Fora isso, ele considera normal a vida após o susto e a colocação de um stent no coração.


“Já fiz dois checapes pós-infarto e não acusou nada. Não sou diabético, não sou hipertenso e nem tenho colesterol alto”, comenta Marcílio, que planeja fazer redução de estômago ainda este ano para resolver a questão das recomendações de perda de peso e alimentação de uma única vez.


O jornalista conta nunca ter sido submetido a nenhum procedimento cirúrgico antes de implantar o stent. “Nunca tinha levado nenhum ponto sequer. Não tinha noção do que estava acontecendo comigo.”


Os primeiros sinais de que algo estava errado foram uma dor muito forte no braço esquerdo e uma sensação ruim, uma agonia. “Era como eu estivesse levantando um carro só com um braço. Fui parar na UTI!” Dois dias depois, Marcílio estava sendo submetido a um cateterismo para detectar o problema. Identificada a obstrução em uma artéria, foi decidida a angioplastia. Cronologicamente, ele lembra ter entrado no hospital dia 4 de janeiro do ano passado; dia 6 o stent foi implantado e no dia 9 saiu do hospital caminhando normalmente. De início, tomava seis tipos de medicamentos para ajudar na adaptação ao stent. Atualmente, tomo apenas dois; um para a pressão, e um AAS. “Hoje, me considero uma pessoa com vida normal.”


Mudança de hábitos de vida é fundamental antes e depois


Na hora em que for acender um cigarro, é bom lembrar sempre que esse hábito nada saudável, diga-se, apesar do prazer momentâneo, pode causar muito, mais muito mal mesmo à saúde, inclusive comprometendo pulmões e a atividade cardíaca. E esse é apenas um dos comportamentos condenados pelos médicos. O resultado pode ser a passagem por uma mesa de cirurgia...


Uma vez sentidos os sintomas de um problema cardíaco sério, e comprovada a necessidade de cirurgia, algumas medidas devem ser tomadas; entre elas a mudança de hábitos de vida.


É preciso abandonar o tabagismo e o consumo de álcool pelo menos dois meses antes do procedimento. Manter uma alimentação saudável e balanceada também é importante. A mudança de hábitos de vida é fundamental para o sucesso pós-cururgia.


“Mas, na verdade, a mudança de hábitos tem de vir antes do problema acontecer. Depois que acontece, as pessoas têm mais aderência, porque passaram pelo susto”, analisa o cardiologista Itamar Oliveira, que atrela o retorno do cirurgiado às suas atividades cotidianas ao seus histórico de vida e clínico.


De acordo com o médico, como boa parte dos pacientes é sedentária, não é objetivo de ninguém torná-los atletas, ou voltar a sê-lo; e sim apenas incluir uma atividade na rotina.


Estudos demonstram que, no pós-operatório, a porcentagem dos pacientes que fumavam foi reduzida de 24% para 12%; os que praticavam alguma atividade física regular subiram de 16% para 47%, e a porcentagem dos que adotaram uma dieta pobre em gorduras saturadas passou de 34% para 72%.

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