domingo, 14 de agosto de 2011

O PESO DO AVC E DA FIBRILAÇÃO ATRIAL

Saúde - RN - Brasil


Isaac Ribeiro - repórter da Tribuna do Norte



Existe um perigo oculto entre nós. Um mal causador de um número cada vez maior de vítimas no mundo e no Brasil. A cada cinco minutos um brasileiro morre em decorrência de acidente vascular cerebral, também conhecido popularmente como derrame. São 100 mil pessoas mortas por ano. As causas estão diretamente relacionadas a um descompasso no coração, gerado na maioria das vezes pela fibrilação atrial, uma arritmia cardíaca diagnosticada com frequência crescente, em pessoas de várias idades, que aumenta em cinco vezes as chances de AVC.




O AVC ocorre quando as artérias que irrigam sangue para o cérebro são obstruídas (isquêmico) ou se rompem (hemorrágico), provocando a morte do tecido cerebral. Pode causar sequelas, de acordo com a área afetada, como paralisia, dor, perda da capacidade de falar e entender, danos à memória, ao raciocínio e a processos emocionais.



Após 50 anos sem novidades nessa área, surge um tratamento inovador que promete revolucionar a vida dos pacientes de fibrilação arterial, e outros agravadores de risco, garantindo maior eficácia e mais segurança aos pacientes. O novo medicamento reduz em 75% os riscos de AVC em pacientes diagnosticados como propensos. A convite da Boehringer Ingelheim, o TN Família esteve na coletiva de imprensa de lançamento do Pradaxa, realizada na última terça-feira, em São Paulo.


"A nova geração de anticoagulantes orais chega para suprir as sérias limitações da terapia atual, que inclui interações medicamentosas, alimentares, necessidade de exames de sangue mensais ou até semanais e risco de hemorragia", salienta Dalmo Moreira, eletrofisiologista, chefe da seção médica de Eletrofisiologia e Arritmia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo. "Estamos lidando com uma doença que tem uma altíssima taxa de mortalidade. Seria essa a maior causa de óbito no Brasil na atualidade", completa o médico, que participou da coletiva junto com o neurologista vascular Alexandre Pieri, responsável pelo ambulatório de Acidente Vascular Cerebral da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), e ainda Luciana Giangrande, cardiologista e gerente médica da Boehringer.


AVC É a maior causa de mortes prematuras no Brasil

O acidente vascular cerebral é a maior causa de mortes prematuras e de incapacitações físicas, hoje, no Brasil. É um problema multifatorial e suas consequências podem ser devastadoras tanto para o indivíduo quanto para sua família. A arritmia cardíaca denominada fibrilação atrial (FA), que faz o coração bater em ritmo irregular e descompassado, é uma das principais causas desse mal e faz aumentar os riscos se associada a doenças crônicas como hipertensão, diabetes e cardiopatias. Tanto o AVC quanto a FA agem de forma silenciosa, com poucos sintomas evidentes até sua manifestação implacável, podendo causar, além de óbito, paralisia, dor, perda da capacidade de falar e entender, danos à memória e ao raciocínio, e ainda comprometimento dos processos emocionais.


Segundo o neurologista vascular Alexandre Pieri, quanto antes se reconhece os sintomas da fibrilação atrial e de um possível AVC, melhor o paciente evolui para um tratamento precoce. "Se a área obstruída for responsável pela força da mão, o paciente vai perder a força na mão. Se for uma área maior, responsável pela força da mão, do braço e da perna, ele vai perder a força em metade do corpo. Se tem esse sintomas, pode até ser outras doenças, mas tem que procurar o hospital o quanto antes, porque pode ser um acidente vascular cerebral."


Tontura e desequilíbrio também estão entre os sintomas, embora possam ser provocadas por outros fatores como situações de estresse ou baixa de açúcar no sangue, por exemplo. Perda de coordenação motora e alterações visuais também podem ocorrer.


"Mas temos de lembrar que muitas vezes o AVC não cursa tão tipicamente de acordo com os sintomas conhecidos. Ele pode ser silencioso. Nós podemos ter AVCs constantes, pequenininhos, que não dão sintomas e nós não percebemos, mas lá na frente nós vamos começar com alteração de memória, parecida com Alzheimer, demência, como chamamos", comenta Alexandre Pieri.


Os pacientes com acidente vascular cerebral ficam internados por longos períodos, em média de 28 a 60 dias, como informa o neurologista. "Durante a internação, os diagnósticos mudam, esse paciente morre ou tem alta, e as pessoas, mesmo os médicos, esquecem que o que o levou à internação foi um AVC, e o diagnóstico de alta acaba sendo outro."


Os transtornos são tão impactantes que os médicos costumam dizer que o AVC não mata a pessoa e sim toda a família. De acordo com a explanação de Alexandre Pieri durante a coletiva promovida pela Boehringer, estudos mostram que famílias de pacientes com sequelas de acidente vascular grave preferiam que eles tivessem morrido a sofrer durante anos.


Os custos também são bastante altos para o Estado. Chega a R$12 mil o gasto do Sistema Único de Saúde por cada vítima de AVC isquêmico fatal. Em 2009, o SUS gastou R$150 milhões só em internações. "Temos dados de que 40% de todas as aposentadorias precoces em nosso país são decorrentes dessa doença. Isso leva a enormes custos com hospitalização, reinternação, aposentadoria, auxílio-doença e reabilitação", revela Pieri.


FIBRILAÇÃO ATRIAL


O descompasso e a irregularidade de ritmo característicos da fibrilação atrial acontecem quando os sinais elétricos do coração falham e fazem com que os átrios (câmaras cardíacas superiores) se contraiam irregularmente, levando a um acúmulo de sangue nessas áreas. Essa concentração sanguínea é bastante perigosa e pode facilitar a formação de coágulos nos átrios. A partir daí, é grande o risco de um deles se desprender e chegar até o cérebro, através da corrente sanguínea, estacionando em uma determinanda área e obstruindo uma artéria, ou seja, gerando um AVC.


De acordo com o eletrofisiologista Dalmo Moreira, 1,5 milhão de pessoas têm fibrilação atrial no Brasil, o que representa 0,8% da população. "Isso nós sabemos daqueles pacientes que vão ao hospital fazer eletrocardiograma, e das pessoas que vão ao pronto-socorro ou que fazem checapes periódicos. Nós não temos a dimensão de indivíduos que têm essa arritmia e não sabem, pois são assintomáticos", comenta. "Cerca de 25% das pessoas com FA não sentem nada absolutamente nada, o que dificulta obviamente a procura por serviço médico."


Pacientes com fibrilação atrial têm cinco vezes mais chances de ter AVC. Um em cada seis casos ocorrem em quem tem esse mal.


No último dia 23 de maio, a Anvisa aprovou a prevenção de acidente vascular cerebral em pacientes, especificamente naqueles com fibrilação atrial.


A cardiologista Luciana Giangrande, comenta que o novo medicamento, o Pradaxa, é um inibidor direto da trombina (substância formadora de coágulos), sua administração é via oral, os efeitos máximos são atingidos em duas horas, e o medicamento começa a agir mais rapidamente, em 30 minutos aproximadamente o efeito coagulante já está disponível, e não tem interação com alimentos. Ela acredita ser importante o paciente saber que ele pode e deve ter uma alimentação saudável, pode comer alimentos verdes, sem a preocupação que a medicação sofra interferência e perca o seu efeito. Também há uma baixa interação com outros medicamentos.


"Importante salientar que na faixa etária onde a fibrilação atrial é mais incidente - idosos, acima de 60 anos - o número de medicamentos que eles usam é crescente. Não raro, os pacientes com problemas no coração usam em torno de seis ou oito medicações para diversos problemas, hipertensão, diabetes, enfim... e o fato de não interagir ou ter pouco potencial para interação medicamentosa é, sem dúvida nenhuma, um grande diferencial para o tratamento com Pradaxa", analisa a cardiologista.


Bate-papo: Alexandre Pieri » neurologista vascular


"Nova droga reduz riscos em até 35%"


Quais as principais vantagens do novo tratamento para AVC com o uso do Pradaxa?

Essa nova droga surge como um medicamento mais eficaz do que tínhamos anteriormente, reduz em até 35% o risco de AVC em relação ao medicamento que nós tínhamos. Uma das grandes preocupações quando usamos anticoagulante é o sangramento cerebral, e essa medicação mostrou uma redução de 59% de sangramento com relação à medicação anterior, e outros pontos importantes do manejo desse paciente que usa anticoagulante. Com o remédio antigo, os pacientes tinham que ser controlados e fazer exames de sangue periódicos; eles tinham que se preocupar com os alimentos que eles comiam porque há uma interação muito grande com alimentos e a maioria dos outros remédios interagiam com esses medicamentos antigos. As novas drogas surgem sem preocupação com alimentos, nem de interação com remédios, e não há mais necessidade de controle de anticoagulação, como havia antes com coleta de sangue periódica, como no tratamento anterior com a Varfarina.


Qual a importância da realização de checapes periódicos?

O checape é importante para conhecer fatores de riscos e tratá-los. Agora o que estamos falando com relação à Varfarina, que era o tratamento anterior, não é checape; era a necessidade de controlar o sangue periodicamente para saber se o pacientes estava realmente tratado; ou seja, o simples fato de tomar o remédio não significava que ele estivesse tratado. Agora, com essa nova medicação, não há mais necessidade de fazer um exame específico para controlar o sangue - alguns pacientes referem que fizeram de 3 a 4 vezes por semana para conseguir manter o sangue adequado. Agora não precisa mais. É o que chamamos de tratamento previsível. A gente comenta que com o remédio anterior, cada dia é um dia; com o tratamento novo, todo dia é igual.


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