quinta-feira, 21 de abril de 2011

História dos Mártires - Parte 3

Religião - RN


A atração da igualdade


Holandeses deram tratamento diferenciado aos índios e conseguiram aliados fiéis contra os portugueses

Os pesquisadores se perguntam porque os índios, principalmente os potiguares que já conviviam a mais de uma geração com os portugueses, se aliaram de forma tão rápida e fiel aos holandeses. As respostas mais precisas parecem estar na liberdade e tolerância religiosa durante o périodo de Nassau, da qual se beneficiaram índios e judeus. Os janduís, tribos do interior, nunca haviam aderido aos portugueses que se estabeleceram no litoral. Entre os potiguaras, há referências sobre descontentamentos com a colonização do Ceará e um pedido feito aos holandeses, através do aventureiro Johan Maxuel, para que atacassem o forte portugues.







Arredios ou descontentes com os portugueses, várias tribos tapuias aderiram ao governo holandês e os potiguares se dividiram. Parte ficou fiel aos portugueses, seguindo a liderança de Felipe Camarão, parte seguiu os chefes Pedro Poti e Antonio Paraupaba, índios educados na Holanda. A importância das tropas indigenas na guerra foi reconhecida por vários cronistas flamengos. O mais famoso deles, Barléu, diz: "De todos foram os Tapuias os mais dedicados a nós. Com o auxílio de suas armas e forças, comandadas por Janduí, pelejamos contra os portugueses".


A Companhia das Índias Ocidentais nunca descuidou do tratamento dispensados aos aliados indigenas. Além de levar vários jovens indios para Holanda, onde eram educados nas leis calvinistas e depois contratados como interprétes, nomeou representantes junto aos índios - Rabbí e Roulox Baro - e em 1645 promoveu uma assembléia em Tapisserica, com representantes de 17 aldeias, onde elegeram Antonio Paraupaba regedor do potiguares no Rio Grande, Pedro Poti, para a Paraiba, e Domingos Carapeba, para Pernambuco e Ceará. A preocupação do governo holandês era fazer os índios se sentirem iguais aos flamengos.


Conselho foi omisso e conivente


O papel do governo holandês estabelecido em Recife, nos episódios de Cunhaú e Uruaçu, nunca ficaram bastante esclarecidos. A conclusão dominante, tirada da leitura das crônicas, é que Supremo Conselho foi conivente com as ações na capitania do Rio Grande por não ter pulso firme suficiente em controlar a atuação de Jacob Rabbí e os grupos de índios liderados por Antonio Paraupaba.


São conhecidos alguns panfletos anônimos, que circularam entre a população holandesa, criticando essa falta de pulso e conivência. Um deles, sob o título Brasulsche Gelt-Sack (A Bolsa do Brasil) considera Jacob Rabbí um "vagabundo impudente", que mereceria mais a forca que um comando, e culpa o conselheiro Adriaen Van Ballestrate por não ter impedido o massacre de Uruaçu.


Algumas tentativas de deter Jáacob Rabbí chegaram a ser feitas. Após o ataque a Cunhau, em fins de julho, o Supremo Conselho enviou um destacamento, formado por uma companhai de infantaria, 20 fuzileiros e mais 50 homens, sob o comandado de um capitão e um pastor. A missão era recambiar Rabbi e os janduís, que ainda estavam em Cunhaú, para o Recife. Houve troca de tiros entre os dois grupos e a missão fracassou.


Apesar da aparente insubordinação, Rabbi não perdeu prestígio entre o comando do Castelo de Keulen nem junto ao conselheiro Ballestrate. Assim é que no dia 1º de outubro consegue peças de artilharia para vencer a resistência na paliçada do Potengi e, no dia 13, participa da reunião com Bellestrate, Paraupaba e o comando do Castelo de Keulen onde se decide deportar os sobreviventes para a Paraiba e desmantelar as cercas fortificadas que haviam na capitania do Rio Grande.


O perdão dado ao tenente-coronel Joris Garstman, após a emboscada para assassinar Rabbí, e que foi executada por dois mosqueteiros holandeses, apesar do motivo ter sido vingança pessoal, é uma mostra de que o Supremo Conselho não se importou muito em perder o inoportuno e incontrolável aliado.


Provas de sacrifícios


Congregação para as Causas dos Santos exigiu provas de que martírio foi em nome da fé cristã




Para receber o pedido de beatificação para as vítimas dos massacres de Cunhaú e Uruaçu, a Congregação para a Causa dos Santos (com sede no Vaticano) impôs três requisitos: que as mortes tenham sido de forma violenta, que os motivos tenham sido ódio à fé católica e que as vítimas tenham aceitos livremente o sacrifício. Um dos desafios do monsenhor Francisco de Assis Pereira, postulador da causa da beatificação dos mártires, foi provar que essas circunstâncias fizeram parte do episódio de Cunháu e Uruaçu.


No caso de Cunhaú a violência foi caracterizada pelo fato do grupo de fiéis ter sido chacinado em um recinto fechado, dentro da capela, sem possibilidades de fuga. Além disso, o ataque foi de surpresa e a traição, desfechado de forma repentina por índios selvagens e soldados holandeses armados.


O cenário onde se deu o massacre, o interior da capela, prova o ódio a fé católica. Em uma situação de respeito à religião e a fé, a capela de Nossa Senhora das Candeias teria que ter sido considerada um lugar inviolável e sagrado. Na defesa da causa da beatificação, monsenhor Assis refutou a tese de que o massacre estaria ligado a interesses econômicos ou militares. Os holandeses não teriam motivos para se preocupar com os moradores de Cunhaú, como ameaça ao domínio da Companhia das Indias Ocidentais sobre o Rio Grande, uma vez que a comunidade era formada por pessoas calmas e dedicadas aos afazeres domésticos.


O terceiro elemento que comprova o martírio na capela Nossa Senhora das Candeias é a aceitação voluntária da morte. Os fiéis não reagiram de forma violenta e, mesmo depois, não houve vingança, concordando com o sacrifício da vida.


URUAÇU - No caso do massacre de Uruaçu, a morte violenta está explícita no momento em que as pessoas foram atacadas por 200 soldados bem armados. O frei português Manuel Calado, no livro O Valeroso Lucideno, considera como "incrivéis" as atrocidades cometidas, como a degola, a decepação de braços e pernas, a amputação de nariz, olhos, línguas e orelhas. A Mateus Moreira arracaram o coração pelas costas.


O segundo critério para a declaração do martírio é morer pela fé. Os historiadores mostram que as vitimas de Uruaçu morreram testemunhando a fé em Deus e na Igreja Católica. No caso específico de Mateus Moreira, que disse "louvado seja o Santíssimo Sacramento" na hora do sacrifício, não há dúvidas sobre o ato de fé. E, por morrerem felizes por Deus, eles aceitaram livremente o massacre. No caso de João Martins, ele chegou a dizer que o matassem logo porque estava invejando seus companheiros.


O processo de beatificação


Passo a passo o processo para beatificação dos mártires de Cunhaú e Uruaçu


Dia 28 de fevereiro de 1989 – Monsenhor Francisco de Assis Pereira é nomeado o Postulador da Causa.


7 de maio de 1989 – a Causa dos mártires é introduzida solenemente na Catedral Metropolitana de Natal.


20 de junho de 1993 – é constituída a comissão de peritos em História, composta por professor José Antônio Gonçalves de Mello, Olavo de Medeiros Filho, Jeanne Fonseca Nesi.


De 17 a 31 de maio de 1994 – reunião do Tribunal Arquidiocesano para a Causa dos Mártires do Rio Grande do Norte.


15 de junho de 1994 – o processo da Causa dos Mártires é entregue na Congregação das Causas dos Santos, no Vaticano.


28 de outubro de 1997 – reunião dos Consultores históricos, na sala dos Congressos da Congregação das Causas dos Santos. O parecer foi pela justeza das investigações históricas feitas pelo Postulador da Causa.


23 de junho de 1998 – A comissão de oito teólogos do Vaticano reconheceram por unanimidade que houve martírio.


5 de março de 2000 – Data marcada pelo Papa João Paulo II para beatificação dos 30 mártires de Uruaçu e Cunhaú.



Culto oficial começa dia 5



Governo já tem projeto para erguer monumento para culto em Uruaçu. Dia dos Mártires ser 3 de outubro



O primeiro grande ato de veneração dos mártires de Cunhaú e Uruaçu, após a beatificação, será uma missa no dia primeiro de abril, na capela Nossa Senhora das Candeias, em Cunhaú. A escolha desta data foi definida porque, após a cerimônia no Vaticano, alguns grupos de peregrinos que estarão em Roma irão para a Terra Santa.


A confirmação do dia oficial de veneração dos mártires acontecerá apenas no dia da beatificação. Mas a sugestão da Arquidiocese de Natal é que o dia 3 de outubro seja dedicado aos beatos brasileiros. Foi nesta data que aconteceu, em 1645, o martírio de Uruaçu. A princípio, também foi cogitado o dia 16 de julho, quando ocorreu o massacre de Cunhaú, mas este dia é de Nossa Senhora do Carmo - uma grande festa da Igreja Católica.


Antes mesmo de serem declarados bem aventurados, os mártires norte-rio-grandenses eram venerados no cruzeiro da fazenda Carnaubinha, as margens do rio Uruaçu, e na capela de Nossa Senhora das Candeias, em Cunhaú. A diferença é que, depois de beatificados, esta veneração poderá ser feita em caráter oficial e em todo Brasil.


Os principais pontos de peregrinação serão o cruzeiro em Uruaçu e a capela de Cunhaú. Neste último lugar, é celebrada, pelo padre Gilvan, uma missa todos os domingos, às 10h.


MONUMENTO - Em Uruaçu o Governo do Estado fará um monumento aos mártires, inclusive com um palanque e painel. A princípio, a obra deveria ser concluída até o dia 5 de março. Mas o monsenhor Francisco de Assis Pereira explica que houve atraso devido aos entraves burocráticos, até mesmo para liberação do terreno da fazenda. No total, a obra está orçada em R$ 500 mil. A execução da construção será da Engenorte.


Na semana passada, uma empresa contratada pelo Governo estava fazendo a análise do solo de Uruaçu. Este estudo é o primeiro passo para a construção. Os técnicos constataram que na profundidade de um metro está um pissarro branco, de alta resistência. A dois metros é um pissarro com areia e a três metros um pissarro com pedra. Esta avaliação integrará os cálculos para a construção do monumento.


O projeto feito pelo arquiteto e urbanista Francisco Soares Júnior abrange uma área de 2 hectares, doada pela família Veríssimo - proprietária da fazenda. Serão construídos um palco, estrutura de camarim e banheiro. A capacidade do local será de 20 mil pessoas para as peregrinações e shows católicos. Além disso, atrás do palco, será feito um grande painel de 30 metros de altura.


Francisco Júnior detalha que a escolha deste painel ficará a critério da Igreja. O arquiteto ainda está fazendo um master plano. "Seria um plano para construir hotéis, pousadas, a casa do peregrino. A família proprietária da fazenda está interessada em parcerias para investir na área", comenta.

Missionário divulga mártires na América Latina


A história dos mártires de Cunhaú e Uruaçu já está sendo contada a outras comunidades católicas ao redor do mundo. O missionário da Virgem de Guadalupe, Josivaldo Trajano Duarte, 23 anos, é devoto dos mártires e vem realizando um de divulgação da vida dos futuros beatos. Ele já proferiu palestras sobre os mártires para fiéis de toda América Latina. Na Argentina, contou com um público ouvinte de três mil pessoas.


As viagens pelo continente fazem parte do trabalho de missionário. Josivaldo mora na comunidade de Piquiri, município de Canguaretama, e ingressou no trabalho missionário quando tinha 13 anos de idade. Foi nesta época que ele começou a visitar os enfermos e se preocupar com os mais humildes.


Através da fé pelos mártires ele garante já ter alcançado um milagre. Há quatro meses, o missionário foi atropelado por um caminhão, no Paraguai. "Fiquei debaixo do veículo. Durante 40 dias não pude andar", lembra. No momento do acidente, Josivaldo afirma ter lembrado dos mártires do Rio Grande do Norte e atribui a esse detalhe que possibilitou a recuperação total diante dos ferimentos recebidos no acidente


Todos os domingos, o missionário participa da missa na capela de Nossa Senhora das Candeias, em Cunhaú. Nas missões pela América Latina, ele conta a história dos mártires norte-rio-grandenses. "Disse ao reitor de um santuário na Argentina e depois ele comentou para um público de mais de 13 mil pessoas", destaca Josivaldo. O missionário cita os fiéis argentinos, paraguaios, chilenos e colombianos como os mais receptivos para a história do martírio de Uruaçu e Cunhaú.












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